
Por que a uva passa virou o ingrediente mais polarizador do Natal?
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Amada por uns, banida do prato por outros e alvo de memes todo fim de ano, a uva passa virou quase um plebiscito informal no Natal brasileiro — especialmente quando aparece no arroz. O que pouca gente imagina é que essa combinação que divide a ceia tem mais de quatro mil anos de história e atravessou impérios, religiões e oceanos até chegar às mesas do Brasil.
A uva passa nada mais é do que a uva in natura desidratada — ou seja, um alimento que perdeu grande parte da água. Com isso, os nutrientes ficam mais concentrados e a densidade energética é maior. Por isso, nutricionistas alertam que é preciso atenção e individualização no porcionamento. Mas além de ser rica em carboidratos, ela contém fibras, vitaminas e compostos antioxidantes.
Origem no Oriente Médio
O consumo de uvas passas, assim como de outras frutas secas, como tâmara, figo e damasco, teve início no Oriente Médio há cerca de 4 mil anos. Elas eram usadas como adoçantes naturais, em um período em que o açúcar ainda era caro e escasso.
Uva-passa: como a fruta mais polêmica do Natal é produzida
Ainda no Oriente Médio, as uvas passas passaram a ser adicionadas a pratos quentes, como o arroz, explica a professora do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Izabela Montezano.
O uso no período da Roma Antiga
O uso das uvas passas na alimentação atravessou o período da Roma Antiga. Em regiões com elevada produção de uvas, como o Mediterrâneo, os frutos que caíam das parreiras e secavam naturalmente ao sol começaram a ser aproveitados em preparações culinárias para evitar o desperdício.
Séculos depois, consolidou-se o hábito de utilizar frutas secas — incluindo a uva passa, símbolo de fartura e fertilidade — nas festividades do Dies Solis Invicti Natalis, feriado romano celebrado em 25 de dezembro, que homenageava o deus Mitra e marcava o solstício de inverno.
Essa festividade foi posteriormente ressignificada pela Igreja Católica para celebrar o nascimento de Cristo, já que não há consenso histórico sobre a data exata.
Com o passar do tempo, o arroz também chegou à região do Mediterrâneo, influenciado pela forte presença árabe entre os séculos VIII e XV, o que reforçou a associação entre o grão e as frutas secas em pratos festivos.
A incorporação pelos portugueses e a chegada ao Brasil
Portugal absorveu esses hábitos e os incorporou à sua culinária, especialmente em preparações ligadas a celebrações religiosas, como o Natal.
Com a colonização portuguesa, essas tradições foram trazidas ao Brasil. Assim, o arroz — alimento incorporado ao cotidiano do brasileiro — passou a receber ingredientes historicamente associados à nobreza, como a uva passa, em ocasiões especiais, como as ceias de fim de ano.
Izabela Montezano explica que a rejeição à combinação de arroz com passas pode estar relacionada à expectativa de separação entre sabores doces e salgados, tradicionalmente associados a pratos diferentes, como o principal e a sobremesa.
“A mistura pode romper uma expectativa sensorial para algumas pessoas, mas certamente é uma combinação carregada de símbolos históricos milenares”, afirma a professora.
A uva passa combina com quais pratos?
A doutora em Ciências dos Alimentos Luciana Bittencourt destaca que a uva passa é bastante versátil: vai bem tanto em receitas doces quanto em salgadas.
“Nos pratos salgados, por exemplo, ela fica ótima em saladas frias, farofas, aves assadas e até em molhos agridoces. Já nas opções doces, ela aparece bastante em bolos, pães, biscoitos e iogurtes”, afirma.
Os benefícios do ponto de vista nutricional
Como a uva-passa é uma fruta desidratada rica em carboidratos naturais, como frutose e glicose, ela é uma boa fonte de energia rápida.
Além do sabor, ela tem uma doçura natural que ajuda a equilibrar as receitas. Em muitos casos, é possível diminuir a quantidade de açúcar refinado, o que é uma vantagem nutricional.
O alimento também tem fibras, que ajudam o intestino a funcionar melhor e aumentam a sensação de saciedade.
Outro destaque são os compostos bioativos, como polifenóis e flavonoides, que têm ação antioxidante e estão associados à proteção do coração e à redução do estresse oxidativo.
Existe uma quantidade ideal para consumir?
Sim. A porção mais indicada é em torno de 30 gramas, o que equivale a mais ou menos duas colheres de sopa cheias. Bittencourt explica que, em pratos principais, nem precisa de tudo isso: de 10 a 20 gramas por porção já são suficientes para dar sabor e agregar valor nutricional, sem deixar a refeição muito calórica.
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