A perícia médica oficial confirmou que Jair Bolsonaro é portador de hérnia inguinal bilateral, condição que requer intervenção cirúrgica. Segundo o laudo, embora a cirurgia seja recomendada pela maioria dos médicos, ela não possui caráter emergencial. A defesa de Bolsonaro ainda precisa indicar quando o procedimento deverá ser realizado e solicitar ao Supremo Tribunal Federal a autorização para uma data específica.
Para entender melhor o que é uma hérnia inguinal e quais os riscos associados, Paulo Barros, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explicou detalhadamente a condição em entrevista ao CNN 360°.
“Hérnia, de modo geral, nada mais é do que um buraco na parede abdominal que permite a saída do conteúdo de dentro da barriga para fora. No caso da hérnia inguinal, esse acontecimento ocorre na região da virilha – então, você tem um buraco naquela região que vai permitir a saída do conteúdo intestinal”, esclareceu o especialista.
“A gente tem os músculos da parede abdominal e temos as fáscias que seguram esses músculos, e aí, você tem uma ruptura tanto da parte muscular quanto das fáscias e isso permite que saia o conteúdo e ele se localize embaixo da pele”, explicou.
Causas e prevalência da condição
De acordo com Barros, a hérnia inguinal é uma das doenças cirúrgicas mais prevalentes ao redor do mundo, afetando principalmente homens. “Estima-se que mais ou menos 30% dos homens vão ter hérnias inguinais ao longo da vida. E só 3% das mulheres”, destacou o médico. Essa diferença ocorre porque, durante o desenvolvimento embrionário masculino, os testículos migram da cavidade abdominal para a bolsa escrotal, tornando a parede abdominal da região inguinal mais frágil.
Outros fatores que aumentam o risco incluem prostatectomia radical, constituição física muito magra, alterações de colágeno e herança familiar. O tratamento para hérnia inguinal é sempre cirúrgico, pois trata-se de um defeito na parede abdominal que não pode ser corrigido com medicamentos ou fisioterapia.
“Se você fortalece o core, você fortalece todo seu abdômen de uma forma geral, o que diminui outras hérnias – mas, acho que está mais relacionado à questão genética do que propriamente uma questão de atividade física ou carregamento de peso”, apontou Paulo Barros.
Tratamento cirúrgico e recuperação
“A questão da urgência do ponto de vista médico tem a ver com os episódios de encarceramento. Quando você tem a saída do conteúdo e o aprisionamento na região inguinal, você tem o encarceramento da hérnia, então, esse paciente precisa de uma cirurgia urgente para isso não se transformar em uma emergência”, afirmou o especialista após ser questionado sobre o caso de Jair Bolsonaro.
O cirurgião explicou que existem dois métodos principais para operar uma hérnia inguinal: cirurgia aberta tradicional e cirurgia minimamente invasiva. “A aberta tradicional, ela ainda é válida, tem bons resultados e acabamos usando com pacientes que tem algum risco, que não queremos passá-lo para uma anestesia geral. E a cirurgia minimamente invasiva, que através de três cortinhos na altura do umbigo, a gente com uma câmera consegue fazer a cirurgia”, detalhou Barros.
Ambas as técnicas envolvem o implante de uma tela de polipropileno para reforçar a parede abdominal, que “quando fazemos de forma minimamente invasiva, colocamos por dentro da barriga, e quando de forma aberta, colocamos por fora”.
Quanto à recuperação, a Sociedade Europeia recomenda cinco dias de parcimônia, evitando carregar peso e fazer esforço físico. O médico, no entanto, sugere que o paciente espere de duas a três semanas para retomar atividades físicas mais intensas.
“De modo geral, é uma cirurgia do dia a dia, é um dos maiores volumes de cirurgia dentro de um centro cirúrgico […] Como é uma doença muito comum, a gente está falando de hérnias pequenas em pacientes sadios que não têm outras comorbidades. Então, em cinco dias, mais ou menos, o paciente já está caminhando, está autônomo, toma banho sozinho. E sete a dez dias é um paciente que já está retornando no consultório”, afirmou o especialista, destacando que a cirurgia é considerada de baixo risco e rotineira nos centros cirúrgicos.
