Mitos e verdades sobre a maconha
Um extrato derivado da planta Cannabis sativa conseguiu reduzir a dor lombar crônica sem provocar sinais de dependência em pacientes acompanhados por quase um ano. A conclusão vem de um ensaio clínico de fase 3 publicado na revista científica “Nature Medicine”, conduzido por pesquisadores da Hannover Medical School, na Alemanha.
A dor lombar crônica é considerada um dos maiores problemas de saúde pública: afeta mais de meio bilhão de pessoas em todo o mundo e figura entre as principais causas de incapacidade e afastamento do trabalho. Os tratamentos disponíveis são limitados: os anti-inflamatórios não esteroides aumentam o risco de problemas cardiovasculares e gastrointestinais quando usados a longo prazo, e os opioides, embora eficazes, têm alto potencial de vício e efeitos colaterais graves.
Como foi feito o estudo
Os participantes receberam o extrato VER-01 – uma formulação líquida padronizada com 5% de THC em óleo de gergelim – ou placebo. O estudo foi dividido em várias fases:
Fase A: 12 semanas de tratamento duplo-cego e controlado por placebo;
Fase B: 26 semanas em regime aberto com VER-01;
Fase C: extensão de mais 26 semanas, seguida de suspensão abrupta da medicação para avaliar sintomas de abstinência;
Fase D: nova fase placebo-controlada de quatro semanas, destinada a testar a manutenção do efeito em pacientes que haviam respondido ao tratamento.
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O desenho rigoroso incluiu ainda testes de segurança cardiovascular, avaliações psiquiátricas e monitoramento diário dos sintomas pelos pacientes em diários eletrônicos.
Resultados principais
Após 12 semanas, os pacientes tratados com VER-01 tiveram uma redução média de 1,9 pontos na escala de dor (0 a 10), contra 0,6 ponto no grupo placebo. Na extensão de seis meses, houve melhora adicional de 1,1 ponto.
Nos subgrupos, os resultados também foram consistentes: entre pacientes com dor de perfil neuropático, o extrato levou a reduções mais acentuadas que o placebo. Além da dor, foram observados ganhos em qualidade do sono e funcionamento diário.
Efeitos adversos e segurança
O tratamento foi considerado relativamente bem tolerado. Entre os 691 pacientes que receberam VER-01 ao longo das fases, 86% relataram algum efeito adverso, sendo a maioria leve ou moderado. Os mais comuns foram:
Tontura (40,8%)
Náusea (15,6%)
Sonolência (10,7%)
Em cerca de 5% dos casos, a tontura levou à interrupção do tratamento. Houve ainda 2,3% de eventos adversos graves relacionados à droga, incluindo episódios raros de síncope e alucinações.
Um ponto central é que não foram observados sinais de escalada de dose, abuso, dependência ou abstinência. Mesmo após a suspensão abrupta, os pacientes não apresentaram quadro compatível com síndrome de abstinência significativa.
Potencial impacto e limitações
Os autores destacam que o extrato “mostra potencial para se tornar uma estratégia promissora de manejo da dor não aditiva”, especialmente em meio à crise global de opioides.
Ainda assim, há ressalvas importantes:
O estudo foi restrito a Alemanha e Áustria;
Profissionais que dirigem veículos ou operam máquinas foram excluídos; Pacientes com doenças graves, histórico de transtornos mentais ou uso prévio de cannabis também não participaram;
A pesquisa foi financiada pela Vertanical GmbH, fabricante do extrato, o que reforça a necessidade de validação independente.
De acordo com a agência de notícias Associated Press (AP), a Vertanical entrou com um pedido para aprovação do seu medicamento junto aos órgãos reguladores europeus. Nos EUA, a empresa afirma estar “trabalhando em estreita colaboração” com os órgãos reguladores para elaborar um estudo que embase a aprovação do FDA.
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