Um pesquisador brasileiro fez história ao se tornar o primeiro da América Latina a receber um dos principais prêmios internacionais em saúde mental. O professor Luis Augusto Rohde foi o vencedor do Ruane Prize Award on Child Lesson Mental Health, na categoria psiquiatria da infância e adolescência, considerado o “Oscar” da área.
Especialista em Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Rohde explicou que sua pesquisa surgiu da necessidade de entender as diferenças na prevalência desse transtorno entre diversos países. “Existia uma noção de que as prevalências eram diferentes entre os países. E nós procuramos entender se isto realmente era verdade”, afirmou.
Em um estudo abrangente que analisou mais de 102 artigos científicos e revisou dados de aproximadamente 100 mil crianças e adolescentes com TDAH ao redor do mundo, Rohde e sua equipe chegaram a uma conclusão surpreendente. “O que nós conseguimos avaliar é que, na verdade, as diferenças eram muito mais em função de diferenças metodológicas nos estudos do que propriamente de diferenças na frequência desse problema de saúde mental”, explicou o pesquisador.
O que é TDAH e o impacto do estigma
O TDAH é caracterizado por desatenção, hiperatividade e impulsividade que causam prejuízos significativos no funcionamento diário das pessoas afetadas. Rohde destacou que o transtorno aparece na infância, mas pode persistir na vida adulta, sendo resultado de alterações na maturação cerebral e trajetórias diferentes de neurodesenvolvimento.
Um dos principais desafios enfrentados por pessoas com TDAH é o estigma social. “Sempre existiu estigma com saúde mental. Na área do TDAH, crianças, adolescentes e adultos são constantemente adjetivados pejorativamente, como malcriado, mal comportado, preguiçoso, incompetente”, lamentou Rohde.
O pesquisador também alertou sobre a desinformação nas redes sociais. Uma pesquisa recente publicada no Frontiers of Psychiatry mostrou que dos 100 posts mais visualizados sobre TDAH no TikTok, com mais de meio bilhão de visualizações, apenas 50% do conteúdo tinha informações corretas sobre o transtorno. “Repara o grau de desinformação que a nossa população fica sujeita”, comentou.
Aumento nos diagnósticos: maior conhecimento, não maior incidência
Rohde esclareceu que não está ocorrendo um aumento na incidência do TDAH na população, mas sim um aumento no número de diagnósticos. “Os médicos e psicólogos estão melhor capacitados para o diagnóstico de TDAH”, explicou, acrescentando que isso tem permitido identificar casos que antes passavam despercebidos, especialmente em meninas e mulheres.
“TDAH em meninas e mulheres que nós não diagnosticávamos no passado, porque se tinha a imagem muito forte de que TDAH era associado à hiperatividade, e as meninas têm muito mais o componente de desatenção e de disfunção executiva”, explicou. Segundo ele, essas meninas ficavam quietas na sala de aula e não eram reconhecidas como tendo o transtorno.
Ao abordar as semelhanças com o aumento de diagnósticos de autismo, Rohde apontou que a situação é mais complexa. Ele explicou que a definição de espectro autista foi significativamente ampliada em 2013, incluindo casos mais leves que anteriormente seriam classificados como outros transtornos. “Antes a gente tratava autismo só aquelas crianças que não tinham comunicação verbal, que não tinham nenhum tipo de interação, e hoje pequenas nuances da interação social são colocadas como parte do espectro”, concluiu.
