Morre Luiz Perillo, paciente que recebeu transplante de 5 órgãos do mesmo doador
O arquiteto brasiliense Luiz Perillo, de 35 anos, viveu um dos dramas médicos mais difíceis do país: a espera por um transplante multivisceral, procedimento que exige a substituição simultânea de cinco órgãos vindos de um mesmo doador.
Após quatro anos na fila e uma rotina marcada por longas internações, sessões de hemodiálise e nutrição parenteral, Luiz foi submetido à cirurgia em na última semana, mas morreu dias depois em decorrência de complicações.
Luiz Perillo, de 35 anos, precisa receber estômago, pâncreas, fígado, intestino e rim de um mesmo doador
Reprodução/TV TEM
A descoberta da doença
Luiz descobriu aos 20 anos que tinha trombofilia, uma alteração genética que aumenta o risco de formação de coágulos.
Com o tempo, a doença atingiu a veia porta, responsável por receber o sangue do sistema digestivo, o que levou à falência progressiva de órgãos como o fígado, o pâncreas e o intestino.
Em 2018, sua saúde se agravou. Três anos depois, em 2021, ele perdeu o intestino após uma trombose, passou a sofrer de desnutrição severa e chegou a pesar apenas 34 kg.
Luiz Perillo, que aguarda o transplante de cinco órgãos, chegou a 34 kg
Arquivo Pessoal
Entre setembro de 2021 e janeiro de 2024, ficou internado de forma ininterrupta por dois anos e quatro meses.
A vida em São Paulo
Natural de Brasília, Luiz precisou se mudar para São Paulo para acompanhar o tratamento em hospitais que realizam transplantes multiviscerais. Sua rotina passou a ser controlada por sessões de hemodiálise três vezes por semana e 13 horas diárias de nutrição parenteral.
Mesmo debilitado, manteve uma disciplina rigorosa de exercícios físicos para tentar preservar a massa muscular. Segundo a mãe, Jussara Martins, era a forma que ele encontrou de se preparar para a cirurgia e “não deixar o corpo desistir”.
A luta pela incorporação no SUS
O transplante multivisceral é considerado uma das cirurgias mais complexas da medicina. Envolve estômago, pâncreas, fígado, intestino e rim — todos retirados em bloco de um único doador.
No Brasil, o procedimento começou em 2011, mas só foi incorporado ao SUS em fevereiro de 2025, após pressão de médicos, pacientes e entidades. Até então, não havia orçamento previsto, e quem precisava do transplante dependia de vagas ligadas a pesquisas.
Com a inclusão no sistema público, Luiz se tornou um dos primeiros pacientes a ter acesso ao procedimento financiado pelo governo.
A espera e a esperança
Luiz descrevia sua condição como “uma equação quase impossível”: encontrar cinco órgãos intactos, compatíveis e do mesmo doador. “É como ganhar na loteria”, dizia em entrevistas ao g1.
Mesmo diante da gravidade, ele mantinha esperança:
“É a esperança de que meu transplante vai chegar. Aumenta as minhas chances de encontrar um doador compatível e de poder voltar para casa depois de tanto tempo”, disse em fevereiro de 2025, após a decisão do Ministério da Saúde.
Ao longo da espera, tornou-se um defensor da doação de órgãos, reforçando que “uma pessoa pode salvar até oito vidas”.
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